30.4.05

all i see for me is misery

Eva is talking to gardel diz:
uma coisa assim 'barateiro'


-Por nada! que é por nada, as justificativas estão perdidas em algum descanso de mesa, em algum suspiro ressecado. Esquecido está, parece. Mas só parece, tudo aí.
-Ok. Está aqui, isso me acalma. Não se embruteça. Conhecemos isso, sabemos disso desde quando?... eu lembro da primeira vez que você me sorriu, estava vago; eu sei. Talvez eu não lembre, mas eu entendi como um pedido de "resida".
-É, uma mania. Anos depois eu sonhei que você corria com um punhal atrás de mim, mas anos depois. Porque eu nunca pediria isso, mas o oposto, "me deixe residir em você".
-Eu sei. O que dá na mesma.
-Pois é, eu sorrio assim, quando eu gosto dum descampado, por exemplo e não preciso me sentir segura. Mais ainda numa plantação, como aquela vez, lembra?! estávamos nas janelas do carro, eu podia me atirar em movimento. Mas não, não pensaria isso... porque sem saber eu só queria viver aquilo. "Ali começava a felicidade"!
-Mas você já sabia, né? "que aquilo era a felicidade!".
-Foi, foi. E eu pude ser, só. Não tinha nada pra começar. E o medo do mar já tinha passado, apesar da falta de fim.

[silêncio]
-Mas cairam, né? De novo.
-Ah é um sobe e desce fatal.
-Mas não é disso que eu estou falando... conto das marionetes?
-Não... se não a gente vai ter que discutir o cenário.

[risos]

-Eu gosto disso, na gente. A cooperação pelo entendimento, apesar das lascas...
-É... mais cooperação do que entendimento... Tem gente que funciona melhor. Adoro quando é imediato, quando a palavra é aquela e basta!
-E quando não tem discurso? aí sim! Sem mediação é que é vida. Mas conosco? é claro que não é assim.

[risos]
-Raramente é. Às vezes eu também me canso.
-E por que continua?
-Quer que eu invente? Bem... demora mais, na aflição, pra descobrir.
-Bem simulado. Mas está insípida, hoje.
-É. Não sei ser engraçada. Nada mais detestável do que a apatia.

[resmungos]
-Tem, claro que tem.
-Ah é, é?
-É. Eu acho. É.
-...Você já aprendeu com ele isso, né?
-Não. Quando ele faz é mesquinho. Mas você adora.

[...]
-É eu fico bem quieta, às vezes inquieta. Mas não apática.
-Quer se dar, não é isso? Você só sabe ser assim. Mas não sabe como. E detesta.
-Não... Claro que não.

[silêncio]

-Ok. Tem razão. E perdão. Mas é você! que adora esse prazer através da beleza. Ingenuidade, oras e justo no que é o mais difícil!
-É você que se destina aos outros... em tu-do que vive quer se dar e dar e dar e dar e só pensa nisso: destinar.
-Ah tá bom então. Como se fosse eu "a composta" por eles!?!
-Aha! Isso você leu; não vale. Tem é medo de receber que eu sei... Ah! tanto respeito, tanto querer e é por si, por si só. "Os outros", balela.
-Mas pra que tanta lasca, meu deus? porém meus olhos não...
-É! esse papo já estava me cheirando a Madre Teresa de Calcutá.

[risos]
-Você já pensou que esse seu desdobrar será uma dádiva a partir do momento que for seu, só seu e de mais ninguém?
-Sim. Tenho começado a pensar assim. E, daí sim... não vai ter como não ser nosso.
-É. Vai ser bonito, né?
-É, sempre é.

[Já está sendo.]

29.4.05

E sei que a poesia está para a prosa, assim como o amor está para a amizade

O entreato hoje/amanhã, quero dizer a meia-noite de hoje/amanhã é o momento mais importante do ano, porque divide o aniversário dos dois seres mais do mundo todo: o meu querido mais que amado Eduardo (Mocousauro) com a minha querida mais que amada Mari (caindo pelas tabelas). Mão direita e mão esquerda, ié. Parabenizem-nos porque é tudo nosso.

carne de vaca faz churrasco

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é o meu coração.

28.4.05

April is the cruellest month

Son of man,
You cannot say, or guess, for you know only
A heap of broken images, where the sun beats,
And the dead tree gives no shelter, the cricket no relief,
And the dry stone no sound of water. Only
There is shadow under this red rock,
(Come in under the shadow of this red rock),
And I will show you something different from either
Your shadow at morning striding behind you
Or your shadow at evening rising to meet you;
I will show you fear in a handful of dust.

Eliot, "The Waste Land".

26.4.05

cordas e correntes arrebentem sem meu corpo amarrar

hoje, existem os inimigos, hoje. eles só precisam me avisar quem são.

ah, mundo enganador

ah que não seja meu
o mundo onde o amor morreu

(Vinícius de Moraes e Baden Powell, que alguém tem no slsk?)

a cultura e a civilização: elas que se danem

ou não.

(já dizia Gilberto Gil, em 1969)

25.4.05

cotidiano

Passei os últimos 03 (três) anos encontrando maneiras de sobreviver a mim mesma. Agora eu cansei e vou dormir.

***
O que vocês pensam quando sentem "dia-a-dia"? "Ah passarinhos do vale... também te amamos."

***
O importante mesmo é o mais fácil: no fim, morrer.
Paul Valéry em dois momentos:

I."Talvez seja este um método, opor a toda falha mental seu estudo imediato pela consciência". Francês pentelho, nem seu 'talvez' salva. Isso não funciona e me dou como garantia.

II. "No sonho, o pensamento não se distingue do viver e não perde tempo com ele. Adere ao viver; adere inteiramente à simplicidade do viver, à flutuação do ser sob os rostos e as imagens do conhecer." Clap clap clap clap clap clap clap clap clap clap clap...

24.4.05

Tiradentes

"a praça Castro Alves é do povo
como o céu é do avião."
Não conseguia permanecer e só estar. Comecei a remoer de lá até aqui. Durante muito tempo evitava a imersão travando diálogos ideais com o meu pior ninguém, aquele que só diz sim. God bless the child. Mas revirei, e, adubado, soube tomar uma outra forma, por exemplo agora, estamos agora com vergonha de mais essa confissão cifrada.
Mas isso parece que faz muito tempo. (Máquinas ato-falham-se? juro que "parece" escreveu-se toda primeiro em caps lock- e detesto termos futurísticos banais.) Justo, permanecer e estar só se for aflita, facinho.
***
Clarice diz que Pound diz que a beleza é difícil. Ok. Às vezes esqueço. Viciada, tento espremer de tudo um algo. Mas preocupada em encontrá-lo vivo a mera interpretação do tédio e parece que esqueceram de mim. Chocolate, carne e batata ajudam.
***
Voltando da praia, no engarrafamento, 15 homens de camisas brancas cantavam salmos, separados de 3 em 3 pelos bancos da kombi vinho. A luz estava acesa, para que eles pudessem ler. Não havia nada que os ligasse fisicamente, a não ser o mesmo balbuciar sem ênfase, as bocas murmurando sem convicção, sem resignação. Fotografado seria o set d´"O estranho no ninho". As pessoas nos carros em volta olhavam, muitos riam. Eu entendi mesmo, finalmente, que mais que difícil, deus deixa saudades.

21.4.05

frisson louco

amo vocês todos, ai!

20.4.05

los dragoncitolitos

Talvez esse tenha sido o meu maior esforço de vida: para compreender a minha não-inteligência, o meu sentimento, fui obrigada a me tornar inteligente. (Usa-se a inteligência para entender a não-inteligência. Só que depois o instrumento- o intelecto- por vício de jogo continua a ser usado- e não podemos colher as coisas de mãos limpas, diretamente na fonte.)


Clarice, "A descoberta do mundo".

19.4.05

PAPA! PAPA! PAPA! PAPA!

quando ele aparecer eu vou gritar gooooooooooooooooooooool!

a bossa, a fossa, a nossa grande dor

17.4.05

O usufruto deve ser total. Estamos em um momento de escancaramento conjunto. Mas o modo verbal, safado, ainda estilhaça. Neste blog a escrita (coincidiremos na paranóia: é sempre um descompromisso- retomado como conceito) pode ser um seqüencial esquecimento progressivo, quero dizer, ouçam Gould, Glenn (1955).

Que assim o mundo gira e nos espera numa boa; esta terra ainda vai cumprir com os burros n´água.

também temos nosso S.A.C. (e aqui também não funciona como gostaríamos)

Meus caros amigos,

ainda não experimentei aquele doce-vagabundo no chá de tília (cit) que vai me lembrar que vocês são dos meus mais saudosos, entre os quais imperava a leveza (cit). Ah! tempo em que descobri Ben Webster girando na vitrola sem parar!

Será só por um instante da nossa desatenção, mas vamos nos entreter no vigente. Gostaria também que a doçura de vocês me conceda o pressuposto que o que temos de melhor são as nossas diferenças.

É preciso ir exata: a coisa tá uma putaria! E camuflada, está ridículo! Quem vocês pensam que são? Marmanjos donos de blogs! E todos sabem que é assim mesmo: sem nada, pra nada, por nada, com nada e que isso-não-dá-em-nada. Mas não! “a gente fica de roupa nesse bacanal, tá, tia?”. Isso aqui não tem menu de degustação não, são só textos. E textos não merecem respeito! Ainda mais que “Comments” é só um sub-item e é o que há de menos obsceno aqui, vai?

(“e ela saiu girando, girando,
arrancando os cabelos e dizendo que era
Jesus!”)

ps. Se ninguém comentar “afveee tá carente!”, ufa, porque não é isso não. E disse antes porque escrever é prevenção. Mas, mesmo assim, vocês vão ser tudo uns puto viado, ceeerto?

mais um post-it. este é o do século.

IV

Se chegarem as gentes, diga que vivo o meu avesso.
Que há um vivaz escarlate
Sobre o peito de antes palidez, e linhos faiscantes
Sobre as magras ancas, e inquietantes cardumes
Sobre os pés. Que a boca não se vê, nem se ouve a
palavra

Mas há fonemas sílabas sufixos diagramas
Contornando o meu quarto de fundo sem começo.
Que a mulher parecia adequada numa noite de antes
E amanheceu como se vivesse sob as águas. Crispada.
Flutissonante.

Diga-lhes principalmente
Que há um oco fulgente num todo escancarado.
E um negrume de traço nas paredes de cal
Onde a mulher-avesso se meteu.

Que ela não está neste domingo à tarde, apropriada.
E que tomou algália
E gritou às galinhas que falou com Deus.


Hilda Hilst, no "Amavisse", em "Do Desejo".

16.4.05

o sábio da montanha proferiu:
raios de sol: o aquecimento preferido do monje astuto e do não-astuto também. passeie, se asseie, não assoe. mamãe, fibra e te fiz um avião.
dá tudo na mesma. tiau.

esse papo já tá qualquer coisa

***
mais cuidado da próxima vez. eu tenho um pobre coração (e vagabundo) que às vezes se acabrunha feito uva-passa.
***
carlos drummond de andrade
não fazia versos sobre acontecimentos.
***
não quero sonhar (pela enésima vez em meses) que subo desço abro porta caio da janela entro por ela saio pela frincha a porta bate o elevador chega me livro dele pulo muro de convento pulo stand de polietileno derrubo madeirite não abro a cancela arrebento o vidro jogando meu corpo e nunca paro e nunca berro que o caminho não é esse não é esse não é esse não é esse.
tudo isso sem conseguir chegar onde eu quero, tudo isso sem saber para onde estou indo, tudo isso pra não tocar onde não devo, pra não entrar no 12, pra não comer a carne que eu quero.
***
a gente faz análise pra se proteger de si, essa é a verdade da minha insônia. covardes.

8.4.05

deus é traição

para as minhas amigas que estiveram na bolha.
para o érico.
para a céci. para o bocous.
para meu avô, morto e inventado.

"Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. (...) Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho, mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho mãe de tudo o que existe. (...) O sentimento era novo pra mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito medo, e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre.
E foi quando pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. (...)
Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. (...)
... mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. (...)
É porque eu sempre tento chegar pelo meu modo. É porque eu ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria- e não o que é. É porque ainda não sei ceder. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque eu talvez precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. (...)
Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe."

"Perdoando Deus", Clarice.

5.4.05

onde está o divã?

numa das poucas horas de sono da semana passada sonhei com o chico-buarque-com-a-barba-por-fazer e pensei "afve, estou curada!". enganinho, tola. seguiram-se outros muitos dias de insônia e finalmente, de ontem pra hoje, dormi. mas, terrível maldição, sonhei com o departamento de lingüística e ninguém mais ninguém menos do que fernando henrique cardoso...

cargas de um mundo, irrevogável

se o papa for o tal do brasileiro, que saco, não abro mais nenhum jornal desse país.

3.4.05

A uma ausência

Sinto-me sem sentir todo abrasado
No rigoroso fogo, que me alenta,
O mal, que me consome, me sustenta,
O bem, que me entretém, me dá cuidado:

Ando sem me mover, falo calado,
O que mais perto vejo, se me ausenta,
E o que estou sem ver, mais me atormenta,
Alegro-me de ver-me atormentado:

Choro no mesmo ponto, em que me rio,
No mor risco me anima a confiança,
Do que menos se espera estou mais certo;

Mas se de confiado desconfio,
É porque entre os receios da mudança
Ando perdido em mim, como em deserto.


Antônio Barbosa Bacelar.

Op. Hipercit.

"Estamos sós e sem desculpas. O homem está condenado a ser livre."

1.4.05

Op. Cit.

Cf. Psicanálise me dá um calor.